21 de set. de 2007
O peso das medidas
Ilustração do meu amigo Grampá!
Want to be on the MTV show "True Life"?
They're doing an episode called, "I'm Happy to be Fat" and the casting director contacted us for help. They are looking for MALES ages 18 - 28 who are happy, fat, and proud of their size. (Sorry they already cast two ladies for the show).
If you or someone you know is interested, reply to this email ASAP and who knows, maybe we'll make you a star!
O anúncio aí de cima chegou no meu email e caiu como uma luva com uma teoria que tenho... Aliás, falava disso na semana passada com uma amiga.
Sabe o que rola: é que mesmo que a maioria das pessoas achem o ó estar fora do peso... Pode existir felicidade sim, com uns quilinhos a mais. Não estou falando de obesidade mórbida não. Estou falando de ser gordinha e ser feliz. Sei que tem muita gente que acha que isso é praticamente impossível. Mas dá pra ser feliz e resolvida sim. Não é pra sair de biquíni enfiado no bumbum, of course! Mas dá pra fazer charme com um belíssimo ombro de fora, um pouco de auto-estima e muito amor no coração.
Deise aceitou o desafio do Mais Você de emagrecer acompanhada de perto do programa. Com quase 100 quilos, ela fará o tratamento recomendado por uma endocrinologista. Além da mudança na alimentação e dos exames que terá de fazer logo após a primeira consulta, ela também fará exercícios regularmente e, se necessário, terá acompanhamento psicológico. Nós estaremos juntos nessa empreitada!
Bem... aí, esta semana eu estava assistindo a Ana Maria Braga - que agora tem um quadro parecido com um programa da TV inglesa que passa no GNT, daqueles que fazem a pessoa visualizar tudo o que enfiou pra dentro em uma semana - e fique meio chocada.
Pois não é que na entrevista, a fofuxa participante do desafio explicado aí em cima, contou pra Ana que era feliz gordinha e que tinha topado participar da função pela saúde, pelo marido, filho... e não por não poder se olhar no espelho, ou por não ser a pessoa mais miserável do mundo por não ter 50kg?
Nossa! Vocês tinham que ver a cara da Ana Maria. Ela parecia não acreditar na alegria extra size da gordinha! Alguém viu isso?
E ainda deu uma pegada de pé de leve... chegou até a falar que o sanduiche que a moça comia regularmente e que apareceu em um vt no início do quadro - pra acabar com a criatura - era bem maior do que o que a produção providenciou para mostrar no estúdio.
Olha, achei tudo isso um tanto deselegante.
Aliás, uma vez quando entrevistei a Ana e gentilmente disse que ela estava ótima e perguntei como ela fazia para se manter em forma tendo que provar tantas delícias no programa... Ela respondeu que fechava a boca e que eu deveria fazer o mesmo. Juro!
Aí, constrangida, tive que contar pra ela que não só fechara a boca, como tinha cortado o estômago e emagrecido 60kg. xiii....
Ficou chato... pra ela. Mas também sei que não tinha como ela saber...
Enfim, acho que já tem muito preconceito por aí para o povo ainda ficar esparramando mais constrangimentos na mass mídia. Que fique claro que forma não tem nada a ver com infelicidade. Podemos ser fininhas e infelizes, rechonchudas e alegres. O tamanho não interfere no estado de espírito de cada um. Acho que todos devemos sim, é ter consciência do nosso peso e do que pode acarretar estarmos fora das medidas saudáveis e ideais.
É louvável um programa como o Mais Você empolgar os telespectadores com um desafio como este. Se a gente vê alguém emagrecer de perto, parece que tudo fica mais fácil.
No mais, acho que cada um de nós tem o direito de ser o que quiser.
Cada um sabe de si, ou melhor, cada um sabe onde a calça jeans aperta!!!
Desejo sorte para a Deise. E mais carinho da Ana Maria com ela.
Esse troço não é fácil!
E voltando ao início deste post... se vc é um cara gordinho e feliz, quem sabe tem uma chance na MTV daqui quando tiver a versão brazuca do add aí em cima. Eles procuram gorduchos felizes!
Nos EUA estas coisas de direitos humanos são muito sérias. Ficar tirando onda não é assim não. Lá as pessoas lutam pelo o que elas acreditam. Sem encolhimentos ou vergonhas. São o que são e assumem. E quem não gostar... que vá ciscar em outro lugar. Até porque, tem gosto pra tudo...
É isso.
beijosssssssssssssssssss
6 de set. de 2007
5 de set. de 2007
3 de set. de 2007
Gordos Injustiçados
Olha fiquei de cabelo em pé com a matéria aí de baixo. Entendo todas as pressões sociais - mais do que ninguém sofro na pele o preço da exposição. Ser fora de padrão é uma baita BARRA. Mesmo assim, acho muito complicado sair propagando tais informações. Dizer que ser gordo na sociedade de hoje é inaceitável, gera ainda mais frustração e preconceito. Enfim, olhem aí o que a pesquisadora da Puc carioca disse ao jornal Zero Hora.
Insatisfação garantida
Preocupação com a imagem corporal altera vida social das mulheres e gera intolerância com os gordos
MILENA FISCHER
Dois terços das mulheres de todo o planeta, entre 15 e 64 anos, já evitaram alguma atividade social, como expressar opinião em público, por se sentirem mal em relação a sua aparência física. Desse contingente de mulheres intimidadas pela busca de um padrão de beleza inatingível, a maioria se situa na faixa etária dos 15 aos 17 anos, a perturbadora adolescência. Os dados constam do relatório global Além dos Estereótipos, pesquisa realizada em 10 países por uma marca de produtos de beleza. Pode-se dizer que o padrão de beleza é inatingível ao observar um outro dado: mais de 92% das garotas declararam que querem mudar pelo menos um aspecto da sua aparência. Ou seja, até mesmo meninas como a Carolina Noll, modelo que ilustra esta reportagem, jovem, magra e com um rosto de boneca, não estão satisfeitas com sua imagem. E provavelmente passarão boa parte da vida buscando formas de modificar seu corpo. Não é à toa que o Brasil conquistou o segundo lugar no ranking dos países nos quais mais se fazem cirurgias plásticas, perdendo apenas para os Estados Unidos. No país que produz uma miss de 22 anos que se submete a 19 plásticas, a gaúcha Juliana Borges, são cerca de 500 mil procedimentos cirúrgicos ao ano. Segundo o Instituto Fitness Brasil, o país também é o segundo colocado no mundo em número de academias, com 7 mil estabelecimentos, atrás novamente dos EUA (mais de 26 mil academias). - O corpo ganhou uma importância inusitada, tornou-se tão ou mais importante do que a alma. Cada vez mais o interior subjetivo começou a ser avaliado por meio da aparência corporal, como se o corpo tivesse se tornado o principal indicador do que há de melhor e do que existe de pior em cada um - diz Denise de SantAnna, historiadora da beleza. Na sociedade do hiperconsumo, onde tudo é oferecido em excesso, as mulheres têm a sua disposição milhares de produtos para auxiliar na busca do corpo perfeito. A indústria da magreza insere-se na engrenagem do "ter que adquirir" - seja uma barriga sarada, um bumbum redondo e, claro, quilos a menos. Paradoxalmente, também há uma oferta jamais vista de tecnologias que conduzem ao sedentarismo e alimentos industrializados de baixo teor nutricional. Dentro desse contexto, a manutenção de um corpo magro torna-se sinônimo de autodisciplina e sucesso - e conduz a uma conseqüente marginalização do gordo.- Se em outras épocas havia uma tolerância maior ao cultivo de uma certa barriguinha, hoje, especialmente para as mulheres, ela é motivo de vergonha, uma prova de falta de amor por si mesma. Essa tendência se tornou mais forte a partir dos anos 60, quando as dietas começaram a povoar as revistas femininas e surgiu o horror à celulite, o biquíni, a minissaia e uma certa liberação do corpo da mulher que dela exigiu novos cuidados com a silhueta e uma intolerância aguda à flacidez do ventre e das coxas - analisa Denise.Para a especialista em transtornos alimentares e coordenadora do Núcleo de Doenças da Beleza do Laboratório Interdisciplinar de Pesquisa e Intervenção Social da PUC-Rio, Joana de Vilhena Novaes, a preocupação com o corpo ultrapassou há muito a questão da saúde:- A obesidade é hoje um caso de saúde pública, inclusive onerando o Estado, uma vez que o SUS tem liberado cada vez mais cirurgias para obesos. Mas não se pode criminalizar a gordura. Há uma intolerância com o gordo, que se tornou exemplo de pessoa feia e desleixada.A pesquisa Além dos Estereótipos corrobora essa fixação pela magreza como sinônimo de beleza e sucesso: nove de cada 10 mulheres entre 15 e 64 anos, no mundo inteiro, disseram que querem mudar pelo menos um aspecto da sua aparência, sendo que o peso é o primeiro deles. A busca por um ideal construído na era do photoshop ("Esses corpos de Hollywood não são de carne e osso, já que o que vemos é apenas a imagem", diz Joana), leva muitas mulheres à imobilidade. Entrevistadas de todas as idades afirmaram abrir mão de atividades como ir à praia, namorar, ir a festas ou conhecer novos amigos por se sentirem feias. Gordas. Ou você nunca lançou mão de um camisetão para ir à praia com aquela amiga que, na sua visão provavelmente distorcida de seu corpo, é mais magra e linda do que você? Ou sua filha nunca chorou na frente do espelho porque a malha justa e cor-de-rosa de balé evidencia a barriguinha típica de seus sete, oito anos? Nessa idade as meninas já estão preocupadas com sua imagem corporal. E começam se condenando. O que normalmente acontece quando uma menina, principalmente na fase da adolescência, diz para as amigas que se acha bonita? É taxada de "convencida". Segundo a pesquisa, somente duas mulheres em cada 10 estão muito satisfeitas com sua aparência física geral, peso e forma corporal, e menos do que duas mulheres em cada 10 acreditam que têm auto-estima alta. O peso e a forma são tão relevantes que não é de espantar que as mães, segundo o estudo, são "significativamente mais propensas a estarem insatisfeitas com sua aparência". A imagem perfeita sempre está a um passo distante - e há milhares de produtos que se pode consumir para tentar chegar a ela.- A mídia cria e reproduz modelos, a população, também. O interessante é perceber que a obsessão pelo corpo é reveladora de uma imensa solidão do indivíduo que, no limite, sabe muito bem que tem apenas o seu próprio corpo como única certeza de que está vivo e de que existe. Tudo se passa como se a frase referencial hoje fosse: tenho este corpo, logo existo - diz Denise.Ao mesmo tempo em que carregam o fardo do espelho, nove de cada 10 mulheres entrevistadas no estudo acham que é importante engajar meninas no sentido de criar uma imagem corporal realista e saudável. E nove de cada 10 garotas de 15 a 17 anos concordam que o discurso positivo sobre imagem precisa começar cedo. Ou seja, as mulheres sofrem uma tirania da qual parecem querer se livrar, mas não conseguem. - A mulher magra é valorizada desde que ela mostre força. É diferente da valorização da mulher magra dos anos 20, pois hoje há uma valorização da magreza associada a seios grandes e lábios grossos, um modelo de mulher que evoca mais a luta, o abocanhar o mundo. Ao mesmo tempo, nunca tivemos tantos obesos. Me parece que a figura do obeso ocupa no imaginário contemporâneo o lugar do monstro. Ele indica a impossibilidade de ser produtivo. Numa época em que ser produtivo transformou-se na principal qualidade do ser humano, a obesidade parece não ter lugar no mundo - conclui Denise SantAnna.
Preocupação com a imagem corporal altera vida social das mulheres e gera intolerância com os gordos
MILENA FISCHER
Dois terços das mulheres de todo o planeta, entre 15 e 64 anos, já evitaram alguma atividade social, como expressar opinião em público, por se sentirem mal em relação a sua aparência física. Desse contingente de mulheres intimidadas pela busca de um padrão de beleza inatingível, a maioria se situa na faixa etária dos 15 aos 17 anos, a perturbadora adolescência. Os dados constam do relatório global Além dos Estereótipos, pesquisa realizada em 10 países por uma marca de produtos de beleza. Pode-se dizer que o padrão de beleza é inatingível ao observar um outro dado: mais de 92% das garotas declararam que querem mudar pelo menos um aspecto da sua aparência. Ou seja, até mesmo meninas como a Carolina Noll, modelo que ilustra esta reportagem, jovem, magra e com um rosto de boneca, não estão satisfeitas com sua imagem. E provavelmente passarão boa parte da vida buscando formas de modificar seu corpo. Não é à toa que o Brasil conquistou o segundo lugar no ranking dos países nos quais mais se fazem cirurgias plásticas, perdendo apenas para os Estados Unidos. No país que produz uma miss de 22 anos que se submete a 19 plásticas, a gaúcha Juliana Borges, são cerca de 500 mil procedimentos cirúrgicos ao ano. Segundo o Instituto Fitness Brasil, o país também é o segundo colocado no mundo em número de academias, com 7 mil estabelecimentos, atrás novamente dos EUA (mais de 26 mil academias). - O corpo ganhou uma importância inusitada, tornou-se tão ou mais importante do que a alma. Cada vez mais o interior subjetivo começou a ser avaliado por meio da aparência corporal, como se o corpo tivesse se tornado o principal indicador do que há de melhor e do que existe de pior em cada um - diz Denise de SantAnna, historiadora da beleza. Na sociedade do hiperconsumo, onde tudo é oferecido em excesso, as mulheres têm a sua disposição milhares de produtos para auxiliar na busca do corpo perfeito. A indústria da magreza insere-se na engrenagem do "ter que adquirir" - seja uma barriga sarada, um bumbum redondo e, claro, quilos a menos. Paradoxalmente, também há uma oferta jamais vista de tecnologias que conduzem ao sedentarismo e alimentos industrializados de baixo teor nutricional. Dentro desse contexto, a manutenção de um corpo magro torna-se sinônimo de autodisciplina e sucesso - e conduz a uma conseqüente marginalização do gordo.- Se em outras épocas havia uma tolerância maior ao cultivo de uma certa barriguinha, hoje, especialmente para as mulheres, ela é motivo de vergonha, uma prova de falta de amor por si mesma. Essa tendência se tornou mais forte a partir dos anos 60, quando as dietas começaram a povoar as revistas femininas e surgiu o horror à celulite, o biquíni, a minissaia e uma certa liberação do corpo da mulher que dela exigiu novos cuidados com a silhueta e uma intolerância aguda à flacidez do ventre e das coxas - analisa Denise.Para a especialista em transtornos alimentares e coordenadora do Núcleo de Doenças da Beleza do Laboratório Interdisciplinar de Pesquisa e Intervenção Social da PUC-Rio, Joana de Vilhena Novaes, a preocupação com o corpo ultrapassou há muito a questão da saúde:- A obesidade é hoje um caso de saúde pública, inclusive onerando o Estado, uma vez que o SUS tem liberado cada vez mais cirurgias para obesos. Mas não se pode criminalizar a gordura. Há uma intolerância com o gordo, que se tornou exemplo de pessoa feia e desleixada.A pesquisa Além dos Estereótipos corrobora essa fixação pela magreza como sinônimo de beleza e sucesso: nove de cada 10 mulheres entre 15 e 64 anos, no mundo inteiro, disseram que querem mudar pelo menos um aspecto da sua aparência, sendo que o peso é o primeiro deles. A busca por um ideal construído na era do photoshop ("Esses corpos de Hollywood não são de carne e osso, já que o que vemos é apenas a imagem", diz Joana), leva muitas mulheres à imobilidade. Entrevistadas de todas as idades afirmaram abrir mão de atividades como ir à praia, namorar, ir a festas ou conhecer novos amigos por se sentirem feias. Gordas. Ou você nunca lançou mão de um camisetão para ir à praia com aquela amiga que, na sua visão provavelmente distorcida de seu corpo, é mais magra e linda do que você? Ou sua filha nunca chorou na frente do espelho porque a malha justa e cor-de-rosa de balé evidencia a barriguinha típica de seus sete, oito anos? Nessa idade as meninas já estão preocupadas com sua imagem corporal. E começam se condenando. O que normalmente acontece quando uma menina, principalmente na fase da adolescência, diz para as amigas que se acha bonita? É taxada de "convencida". Segundo a pesquisa, somente duas mulheres em cada 10 estão muito satisfeitas com sua aparência física geral, peso e forma corporal, e menos do que duas mulheres em cada 10 acreditam que têm auto-estima alta. O peso e a forma são tão relevantes que não é de espantar que as mães, segundo o estudo, são "significativamente mais propensas a estarem insatisfeitas com sua aparência". A imagem perfeita sempre está a um passo distante - e há milhares de produtos que se pode consumir para tentar chegar a ela.- A mídia cria e reproduz modelos, a população, também. O interessante é perceber que a obsessão pelo corpo é reveladora de uma imensa solidão do indivíduo que, no limite, sabe muito bem que tem apenas o seu próprio corpo como única certeza de que está vivo e de que existe. Tudo se passa como se a frase referencial hoje fosse: tenho este corpo, logo existo - diz Denise.Ao mesmo tempo em que carregam o fardo do espelho, nove de cada 10 mulheres entrevistadas no estudo acham que é importante engajar meninas no sentido de criar uma imagem corporal realista e saudável. E nove de cada 10 garotas de 15 a 17 anos concordam que o discurso positivo sobre imagem precisa começar cedo. Ou seja, as mulheres sofrem uma tirania da qual parecem querer se livrar, mas não conseguem. - A mulher magra é valorizada desde que ela mostre força. É diferente da valorização da mulher magra dos anos 20, pois hoje há uma valorização da magreza associada a seios grandes e lábios grossos, um modelo de mulher que evoca mais a luta, o abocanhar o mundo. Ao mesmo tempo, nunca tivemos tantos obesos. Me parece que a figura do obeso ocupa no imaginário contemporâneo o lugar do monstro. Ele indica a impossibilidade de ser produtivo. Numa época em que ser produtivo transformou-se na principal qualidade do ser humano, a obesidade parece não ter lugar no mundo - conclui Denise SantAnna.
Comportamento
"O gordo não participa das regras do jogo"
Especialista em transtornos alimentares e Coordenadora do Núcleo de Doenças da Beleza do Laboratório Interdisciplinar de Pesquisa e Intervenção Social da PUC-Rio, Joana de Vilhena Novaes passou 10 anos em pesquisa de campo em academias e ante-salas de clínicas de cirurgias plástica e grupos de pacientes à espera de gastroplastia redutora. O resultado é uma tese de doutorado e um retrato comportamental sobre a relação da mulher com a ditadura da beleza, publicado, com bom humor, no livro O Intolerável Peso da Feiúra - Sobre Mulheres e seus Corpos (PUC/Garamond). Mestre e doutora em psicologia clínica, Joana é consultora em campanhas publicitárias e especialista em transtornos alimentares. Nesta entrevista, concedida por telefone desde o Rio de Janeiro, ela lança um alerta sobre o preconceito contra as pessoas gordas:- Estão criminalizando a gordura.
Donna ZH - Por que hoje as mulheres consideram mais importante ser magra do que bonita?
Joana de Vilhena Novaes - Elas não consideram. Simplesmente não há mais como desvincular os conceitos de magreza e beleza. Ser magra é a personificação da imagem do sucesso. Ninguém aponta exemplo de pessoa bonita que não seja magra. Então não há mais diferença de importância entre ser magra e bela. As duas coisas são uma só.
Donna ZH - Então uma pessoa gorda jamais será exemplo de belo?
Joana - Veja bem, estou fazendo um recorte da situação. Ressaltando a que ponto as coisas chegaram. Ser gordo é a representação da feiúra e da exclusão social. Hoje, não há nada que leve mais à exclusão do que ser gordo. Gordura virou sinônimo de desleixo, de problema de caráter. O gordo enfrenta problemas nas seleções de vagas de emprego. Pesquisa publicada no New York Times mostra que quem é gordo e feio ganha menos do que quem é magro. Assim como magreza tornou-se sinônimo de beleza, gordura é o mesmo que feiúra.
Donna ZH - Como chegamos a esse ponto?
Joana - É próprio dos tempos atuais moralizar a beleza, que é quando se responsabiliza a pessoa por sua aparência física. Na sociedade de consumo, há muito o que consumir para não ser gordo. Em uma sociedade marcada por paradoxos, um deles é que, apesar de as pessoas serem mais sedentárias, são mais cobradas a terem corpos atléticos. Vivemos a cultura do excesso, mas a mensagem é "prive-se, o seu valor está na disciplina". Logo, o gordo não participa das regras do jogo.
Donna ZH - O gordo está sendo marginalizado e culpado por seu corpo?
Joana - Sim. É óbvio que há a questão da saúde, 25% da população está com sobrepeso, e 15%, obesa. Isso é alarmante. Mas faço esse recorte para chamar atenção para a criminalização da gordura. Em São Paulo, circulou uma peça publicitária de uma campanha de prevenção de obesidade infantil na qual o menino tinha uma tarja preta sobre o rosto. Assim você criminaliza a gordura. A obesidade é considerada hoje o máximo do desleixo dos pais para com seus filhos. Enquete feita pelo Fantástico perguntava se os pais de obesos deveriam perder a guarda dos filhos. Este é o ponto a que chegamos.
Donna ZH - Não é à toa então que uma revista nacional elegeu Angelina Jolie como o símbolo da mulher bem-sucedida do século 21.
Joana - Quando você pede a alguém que cite o exemplo de um ícone, de mulher bem-sucedida, a resposta sempre é uma personalidade bonita. Não basta mais ser mãe, esposa, ter carreira. É necessário ser bonita e ter um corpo em dia e jovem. A vaidade associada à juventude é um valor máximo dos tempos atuais. Por isso as meninas começam a se preocupar com a imagem corporal tão cedo. A TV, e não estou satanizando a mídia, cumpre um papel decisivo nisso ao difundir padrões de comportamento. Vivemos na sociedade da imagem. Não é à toa que as modelos são os ícones. Isso diz muito da nossa cultura.
Donna ZH - Depois de tantas transformações e liberações, a mulher está agora presa à ditadura do corpo?
Joana - Sim, você libera a mulher do espartilho, queima os sutiãs mas e aí? Cai na ditadura da beleza, da esteira. Costumo brincar dizendo que hoje a coisa ficou mais difícil. Além das três jornadas típicas da mulher (casamento, casa e trabalho), agora ela enfrenta a quarta jornada: ter que ser gostosa. Não tenho uma leitura feminista disso, os benefícios do exercício são inegáveis. Só proponho uma visão mais crítica.
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