15 de out. de 2007

A BUNDA

Olha,
sempre tive bunda grande. Não tem jeito. Mesmo mais magra a minha bunda sempre foi avantajada.Sorte e azar meu. No último domingo, lendo um texto da minha amiga Martha me deparei com a crônica da dita. Como nós mulheres adoramos fazer drama sobre as partes do nosso próprio corpo entendi o que a fininha da Martinha quis dizer. Ainda bem que tem gosto pra tudo. Já diria o poeta Carlos Drumond de Andrade, que fez uma crônica enaltecendo a buzanfa. Aliviada, posto as duas versãoes:

Ela

Martha Medeiros

Todos tem uma, grande, média, pequena. Todos querem perdê-la, caminhando, correndo, nadando, suando. Raros estão felizes com a sua

Se você não tem problemas com a sua, levante as mãos para o céu e pare agora mesmo de reclamar da vida. O que são algumas dívidas para pagar, um celular sempre sem bateria, um final de semana chuvoso? Chatices, mas dá-se um jeito. Nela não. Nela não dá-se um jeito. Para eliminá-la, prometemos cortar bebidas alcoólicas, prometemos fazer mil abdominais por dia, mas ela não acusa o golpe, segue com sua saliência irritante. A gente caminha, corre, sobe escada, desce escada, vibra quando nosso intestino está bem regulado, cumprindo suas funções à perfeição, mas ela não se faz de rogada, mantém-se firme onde está. "Mantém-se firme" é força de expressão. Ela é tudo, menos firme. Você sabe de quem estou falando.

Ela é uma praga masculina e feminina. Os homens também sofrem, mas aprendem a conviver com ela: entregam os pontos e vão em frente, encarando a situação como uma contingência do destino. As mulheres, não. Mulheres são guerreiras, lutam com todas as armas que têm. Algumas ficam sem respirar para encolhê-la, chegam a ficar azuis. Outras vão para a mesa de cirurgia e ordenam que o médico sugue a desgraçada com umbigo e tudo. Mas passa-se um tempo e ela volta, a desaforada sempre volta.

Quem não tem a sua? Eu conto quem: umas poucas sortudas com menos de 15 anos. Umas poucas malucas que acordam, almoçam e jantam na academia. Algumas mais malucas ainda que não almoçam nem jantam. As que nasceram com crédito pré-aprovado com Deus. E aquelas que nunca engravidaram, lógico.

As que ignoram totalmente sobre o que estou falando são poucas, não lotariam o Gigantinho. Já as que sabem muito bem quem é a protagonista desta crônica, pois alojam a infeliz no próprio corpo, povoam o resto da cidade, estão por toda parte. Batas disfarçam, vestidinhos disfarçam, biquínis colocam tudo a perder.

Nem todas a possuem enorme. Cruzes, não. Às vezes é apenas uma protuberância, uma coisinha de nada, na horizontal nem se repara. Aliás, mulheres acordam mais bem-humoradas do que os homens porque de manhã cedo somos todas magras. Todas tábuas. Todas retas. Passam-se as primeiras horas, no entanto, e a lei da gravidade surge para dar bom-dia. Lá se vai nosso humor.

Falam muito de celulite. Falam de seios, de traseiros, de rugas, de pés grandes, de falta de cintura, de caspa, de tornozelos grossos, de orelhas de abano, de narizes desproporcionais, de ombros caídos, de muita coisa caída. Temos uma possibilidade infinita de defeitos. Mas ela é que nos tira do prumo. Ela é que compromete nossa silhueta. Ela é que arrasa com a nossa elegância. Ela. Nem ouso pronunciar seu nome. Você sabe bem quem. Se não sabe, sorte sua: é porque não tem.

Já Drummnd, vê de outra forma.

A bunda, que engraçada

A bunda, que engraçada.
Está sempre sorrindo, nunca é trágica.

Não lhe importa o que vai
pela frente do corpo. A bunda basta-se.
Existe algo mais? Talvez os seios.
Ora - murmura a bunda - esses garotos
ainda lhes falta muito que estudar.

A bunda são duas luas gêmeas
em rotundo meneio. Anda por si
na cadência mimosa, no milagre
de ser duas em uma, plenamente.

A bunda se diverte
por conta própria. E ama.
Na cama agita-se. Montanhas
avolumam-se, descem. Ondas batendo
numa praia infinita.

Lá vai sorrindo a bunda. Vai feliz
na carícia de ser e balançar
Esferas harmoniosas sobre o caos.

A bunda é a bunda
redunda.



Carlos Drummond de Andrade © Graña Drummond

4 comentários:

Anônimo disse...

Oi Mauren! Sempre leio seu blog mas raramente comento.... engraçado, achei que a crônica da Martha era sobre a barriga e não a bunda. Enfim... adoro vc e seu blog! bjos, Julia

Anônimo disse...

Achei e continuo achando que era barriga e não bunda....Mas, todo mundo sempre reclama de algo no seu corpo,não é verdade?
A insatisfação e a procura da perfeição(nunca atingida!) é um problema cada vez mais sério...Sempre tive bundão,nunca barriga...Mas, depois dos filhotes..Ui! Que horror!!!!É bunda,barrig,seio caido...Mas,mesmo assim,tô feliz!Tá podia perder varios kilinhos,endurecer o corpitio....é a insatisfação!!!!!
Beijocas Mauren!Tava linda de flor no cabelo na festinha!!!!rsrsrssss...
Lu M.

Anônimo disse...

Achei e continuo achando que era barriga e não bunda....Mas, todo mundo sempre reclama de algo no seu corpo,não é verdade?
A insatisfação e a procura da perfeição(nunca atingida!) é um problema cada vez mais sério...Sempre tive bundão,nunca barriga...Mas, depois dos filhotes..Ui! Que horror!!!!É bunda,barrig,seio caido...Mas,mesmo assim,tô feliz!Tá podia perder varios kilinhos,endurecer o corpitio....é a insatisfação!!!!!
Beijocas Mauren!Tava linda de flor no cabelo na festinha!!!!rsrsrssss...
Lu M.

Mauren Motta Comunicação e Mkt disse...

Olha... falei com a Martha e o tal texto era mesmo sobre barriga. Mas valeu... mesmo asssim, a gente conseguiu linkar com o bumbum, coisa que também enche o saco de um montão de gente. Beijo gurias, valeu a participação!
mauren.