20 de mar. de 2007

Efeito Sanfona



Minha nova heroína, Denise Arcoverde, escreveu sobre a Kistie Alley. Sei que o tal do regime dessa moça não é novidade pra ninguém, que ela tentou emplacar de gorducha na TV e não deu certo etc e tal. Mas, lendo o post, achei impossível deixar fora do De Dentro... então aí vai:


Síndrome do "estou voltando pra casa outra vez... e com vários quilinhos na bagagem"

Vocês viram a Kirstie Alley em Oprah, mostrando o corpinho com 35 quilos a menos, de bikini?

Claro que essas celebridades não podem ser muito parâmetro pra gente, já que elas têm dinheiro e tempo, à vontade, pra fazer tudo pra emagrecer. A realidade da mulher "normal", que precisa se garantir na dietazinha, fazendo milagres pra arrumar tempo pra malhar, é bem outra.
Mas, não deixa de ser um incentivo ver uma mulher de 55 anos perder o peso excessivo, que só fazia mal à sua saúde. Ela não tá magra, mas sempre teve esse estilo gostosona, pernuda e bunduda. Eu achei que ela tá maravilhosa.
Sim, porque eu falo sempre contra a ditadura da magreza, mas isso não significa que eu ache que todas nós devemos exagerar no peso, não, gente. Só sou contra a gente sofrer e se deprimir por não aceitar o corpo que tem.
Até porque nem sempre é fácil, ou mesmo possível, perder aqueles quilos a mais e não dá pra ficar "adiando a felicidade", esperando para o dia em que ficar magra. A gente tem é que arrumar um jeito de ser feliz com o peso que tem, procurando melhorar, se informando sobre a melhor nutrição, fazendo nossos exercícios, caminhadas, mas sem paranóia.
Isso me faz lembrar uma coisa que eu ouço todo ano, quando vai chegando perto do natal e as amigas, que vivem no exterior começam a se preparar pra voltar pro Brasil, para as festas de fim de ano. Nos últimos dias, ouvi de quatro amigas diferentes reações que vão da frustração, depressão ao pânico total. Começa a temporada de escrutínio...
Confesso que eu mesma respirei aliviada quando pensei que só vou ao Brasil em agosto, portanto tenho tempo para tentar perder os quilos adquiridos, em boa parte, pela combinação metabolismo lento + dificuldade pra aguentar exercícios aeróbicos (causada pela fibromialgia) e mais sem-vergonhice mesmo, andei viajando demais pra pensar em dieta.
Mas, a questão é que não era pra ser assim. Mesmo que a gente esteja se sentindo bonita, feliz com nossos corpos mais avantajados, a volta ao Brasil é sempre um terror. É a certeza das perguntas (ou comentários) inevitáveis: "engordou um 'pouquinho', né, querida?" PQP porque não aguentam ficar caladas???!!!
A gente já sabe que não existe país mais cruel para a mulher que o Brasil. Francamente, essa é uma das coisas que me deixam feliz aqui.
E olha que não é verdade que todo mundo nos EUA é obeso, não. Nos centros mais decolados, não é bem assim. Aqui em Washington, temos muitas yuppies, muitas advogadas, assessoras de políticos, muitas jornalistas, ongueiras e gente que se cuida muito bem. No meu bairro é difícil encontrar alguém realmente obesa, pelo contrário, à noite o que a gente vê é muita gente malhando, correndo pelas calçadas.
Ainda assim, a sensação é que cada um tá cuidando do seu corpo e não tá prestando atenção nos outros. Não existem aqueles olhares de desprezo que a gente vê no Brasil. Basta engordar um pouco e a gente se sente como se estivesse com alguma doença contagiosa, uma pessoa digna de pena... ou pior... é mais uma que "embuxou", "barangou"... esses termos detestáveis que vejo até mulheres usando.
Pior é que não vem nem tanto dos homens, mas das próprias amigas e familiares. Quando vou ao Brasil, se tiver mais gordinha, tem uma tia que já é avisada ela minha mãe, de antemão a se manter calada senão leva um fora inesquecível. E mesmo assim, nem sempre ela se controla.
Desde que tive Bia, virei um yô-yô. Vendo as minhas fotos, estou sempre mais gorda ou mais magra. Mas meus namorados nunca pareceram nem um pouquinho incomodados, nem meu ex-marido que tinha uma atração confessa por mulheres de formas amplas (assim como o atual).
Nem eu, francamente, me sinto mal com meus quilos a mais. Preciso emagrecer porque está passando dos limites, porque fico mais pesada e isso é ruim pra fibro, mas sempre olho no espelho e me sinto feliz com o que vejo. Respeito as inevitáveis mudanças do tempo. Além do mais não sou mulher de comer só saladinhas. Quero todos os prazeres, inclusive os da mesa.
Mas, no Brasil, por mais feliz que você esteja, sempre vai ter alguém pra lhe lembrar que você já não tem o peso e o corpinho dos 18 anos, pra lhe cobrar dietas milagrosas e sacrifícios em clínicas de emagrecimento mirabolantes. É quase como se você fosse culpada por ter engordado e devesse ser punida por isso, com uma quase humilhação pública.Francamente, precisamos acabar com isso. Proponho uma revolta, não tente ser fina, dê um fora na horinha. Se ser magra fosse sinal de felicidade a Kate Moss não vivia em reabilitação. Estou precisando perder uns bons 10 quilos e nunca estive mais feliz na vida. Façam como eu, não se intimide. Ninguém, absolutamente ninguém tem nada a ver com o que diz a sua balança.

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