Como uma espécie de seqüência desse inventário de pavores, o sociólogo agora se dedica a destruir as principais crenças do senso comum sobre a alimentação. Alguns dos pontos nos quais centra fogo são, segundo escreve, a reverência com que são recebidos estudos que promovem esse ou aquele alimento, a conseqüente glorificação de certas comidas e modos de produção, a associação que se faz entre alimentos tidos como naturais e saúde, a relação entre obesidade e aumento de mortalidade e a adesão impensada a produtos dietéticos.Quanto aos artigos de baixas calorias, Priscila Barsanti de Paula, nutricionista do hospital Albert Einstein, em São Paulo, concorda: "Um alimento diet não é necessariamente light. Muitas vezes, esse tipo de alimento pode conter até mais calorias se comparado a um light ou a um convencional", explica.O diretor da Associação Brasileira de Nutrologia, Edson Credidio, endossa: "Nem tudo o que é light, diet, orgânico, 'fat free' etc. é saudável e, além disso, pode fazer mal à saúde quando utilizado sem a orientação de um profissional".
Celel Teber/Stockxpert
Segundo Glasner, o fast food não pode ser considerado vilão se consumido às vezesO nutrólogo também faz coro com o sociólogo ao recomendar cautela quanto à sucessão de descobertas que povoam o universo alimentar. "Alguns estudos são suspeitos, muitas vezes encomendados e, por isso, efêmeros e com cunho comercial."Mas, se para Glassner há muita ênfase na obesidade e pouca atenção sobre outros fatores de risco à saúde, os especialistas ouvidos pela Folha rechaçam essa visão e relembram a gravidade do problema."O Brasil está passando por uma transição nutricional. Estamos deixando de ser desnutridos para ser obesos. O problema da obesidade é real", afirma o endocrinologista Henrique Suplicy, presidente da Abeso (Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica).Ele diz, no entanto, que é preciso ter cautela na hora de aderir a dietas. "O que existe também é que você entra em um site como a Amazon, digita 'dieta' e aparecem quase 3.000 títulos de livros de dietas hipocalóricas, com cada autor inventando a sua. É um absurdo."Edson Credidio alerta que a obesidade traz riscos. "Tem de ser dada toda a atenção à obesidade, porque ela provoca a síndrome plurimetabólica, que leva a hipertensão arterial, diabetes, infarto, derrame e câncer. Os obesos têm grande tendência à morte súbita."Priscila Barsanti de Paula lembra que o fenômeno se tornou uma epidemia: "Desde 1991, a Organização Mundial de Saúde (OMS) considera a obesidade uma doença com dimensões assustadoras. Nos EUA, cerca de 65% dos adultos têm excesso de peso; no Brasil, cerca de 40%. Os índices de gordura populacional vêm aumentando em ritmo acelerado. Tornou-se uma epidemia".Prazer e realismoAlém de relativizar os benefícios do que hoje é visto como saudável, Glassner dedica muitos parágrafos a questionar os fundamentos das críticas destinadas a locais como McDonald's e Burger King. Qualifica de exercício de "esnobismo" torcer o nariz para as redes de fast-food e advogar a superioridade de produtos "frescos" ou de uma culinária "autêntica", confrontando vários fatos e fantasias relacionados a esses conceitos."Se a pessoa tem um hábito alimentar saudável, não há risco em lanchar, eventualmente, em um fast-food. O que não deve acontecer é a substituição das refeições pelos lanches", pondera Barsanti.Não se trata de comer indiscriminadamente e sem limites, repete Glassner ao longo de seu "evangelho", mas de cuidar para não embarcar em privações injustificadas. Diz ele no livro: "Mais do que deixar que nosso paladar seja nosso guia, permitimos que os outros nos digam o que comer e como pensar sobre o que comemos. Apenas se reconhecermos os mitos, meias-verdades e processos de culpa envolvidos no que e onde comemos é que poderemos começar a desfrutar de maior prazer e realismo à mesa".
Celel Teber/Stockxpert
Segundo Glasner, o fast food não pode ser considerado vilão se consumido às vezesO nutrólogo também faz coro com o sociólogo ao recomendar cautela quanto à sucessão de descobertas que povoam o universo alimentar. "Alguns estudos são suspeitos, muitas vezes encomendados e, por isso, efêmeros e com cunho comercial."Mas, se para Glassner há muita ênfase na obesidade e pouca atenção sobre outros fatores de risco à saúde, os especialistas ouvidos pela Folha rechaçam essa visão e relembram a gravidade do problema."O Brasil está passando por uma transição nutricional. Estamos deixando de ser desnutridos para ser obesos. O problema da obesidade é real", afirma o endocrinologista Henrique Suplicy, presidente da Abeso (Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica).Ele diz, no entanto, que é preciso ter cautela na hora de aderir a dietas. "O que existe também é que você entra em um site como a Amazon, digita 'dieta' e aparecem quase 3.000 títulos de livros de dietas hipocalóricas, com cada autor inventando a sua. É um absurdo."Edson Credidio alerta que a obesidade traz riscos. "Tem de ser dada toda a atenção à obesidade, porque ela provoca a síndrome plurimetabólica, que leva a hipertensão arterial, diabetes, infarto, derrame e câncer. Os obesos têm grande tendência à morte súbita."Priscila Barsanti de Paula lembra que o fenômeno se tornou uma epidemia: "Desde 1991, a Organização Mundial de Saúde (OMS) considera a obesidade uma doença com dimensões assustadoras. Nos EUA, cerca de 65% dos adultos têm excesso de peso; no Brasil, cerca de 40%. Os índices de gordura populacional vêm aumentando em ritmo acelerado. Tornou-se uma epidemia".Prazer e realismoAlém de relativizar os benefícios do que hoje é visto como saudável, Glassner dedica muitos parágrafos a questionar os fundamentos das críticas destinadas a locais como McDonald's e Burger King. Qualifica de exercício de "esnobismo" torcer o nariz para as redes de fast-food e advogar a superioridade de produtos "frescos" ou de uma culinária "autêntica", confrontando vários fatos e fantasias relacionados a esses conceitos."Se a pessoa tem um hábito alimentar saudável, não há risco em lanchar, eventualmente, em um fast-food. O que não deve acontecer é a substituição das refeições pelos lanches", pondera Barsanti.Não se trata de comer indiscriminadamente e sem limites, repete Glassner ao longo de seu "evangelho", mas de cuidar para não embarcar em privações injustificadas. Diz ele no livro: "Mais do que deixar que nosso paladar seja nosso guia, permitimos que os outros nos digam o que comer e como pensar sobre o que comemos. Apenas se reconhecermos os mitos, meias-verdades e processos de culpa envolvidos no que e onde comemos é que poderemos começar a desfrutar de maior prazer e realismo à mesa".
"The Gospel of Food: Everything You Think You Know about Food is Wrong", de Barry Glassner; ed. Ecco; 304 págs.
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