11 de abr. de 2007

A magreza como chave da felicidade




Tudo começa quando você está diante do espelho e acha que precisa emagrecer 1 ou 2 quilinhos. Até aí tudo bem, afinal você tem pegado pesado com os doces nos últimos dias. Aí vem a decisão: cortar os doces da sua dieta. Passado algum tempo, está você, novamente em frente ao espelho. O próximo passo é não comer mais carboidratos, de agora em diante só bife e salada. Os amigos notam o esforço, elogiam: “como você está bonita!”. Claro, você adora e resolve então diminuir mais ainda a comida. Você tem se sentido mais cansada ao final do dia, mas pensa: “deve ser o calor”. Reduz mais ainda a alimentação, até porque, você nem sente mais tanta fome.

De vez em quando dá aquela vontade de comer um chocolate, mas agora ele é proibido. Sua família já está ficando preocupada: “minha filha, assim você desaparece”. Pensando bem, era isso mesmo que você queria. Os amigos já comentam: “nossa, você está emagrecendo demais”. Ao que você responde: “imagina, nem é para tanto... estou bem assim”. A menstruação não vem mais, o cabelo e a pele estão mais ressecados; as brigas em casa são constantes, eles querem lhe forçar a comer e você quer comer “nada”.

Alguns leitores já devem ter percebido que estamos falando da Anorexia Nervosa. Uma doença extremamente grave, caracterizado por uma série de recusas em relação à comida, na maioria das vezes seguida pela prática exagerada de atividade física, uso de laxantes, diuréticos ou inibidores de apetite que resulta em perda excessiva de peso.

Emagrecer a qualquer custo? Que nada, a muito custo! O preço de uma doença destas é a saúde... E, como vimos nos noticiários recentemente, custa a vida em até 20% dos casos.

As conseqüências de uma redução acentuada de peso ou da manutenção de um peso muito baixo por algumas semanas são: a depleção das reservas de vitaminas e minerais do organismo, podendo levar à doenças como anemia, osteoporose precoce, perda de cabelos e alterações nas unhas. Também, pode ocasionar a incapacidade de algumas glândulas corporais exercerem suas atividades, daí a interrupção da menstruação, por exemplo, que pode persistir até a recuperação de um peso mínimo saudável. Podem ocorrer ainda alterações do funcionamento cardíaco, lesões renais pelo uso de diuréticos, lesões nos dentes, no estômago e no esôfago, devido aos vômitos que podem estar presentes em algumas pacientes, alterações de humor, além de alterações intestinais pelo uso prolongado e inadequado de laxantes.

Mas então quer dizer que qualquer programa de emagrecimento pode ser perigoso? Não. Também não é assim! É necessária a interação de outros fatores de risco (socioculturais, familiares, biológicos e psicológicos) para o desencadeamento de todo o processo. A insatisfação com o corpo, a supervalorização do corpo feminino e a idealização da magreza como sendo a chave para a felicidade, pode criar um ambiente psicológico favorável ao desenvolvimento de um transtorno alimentar, ainda mais quando associado a uma baixa auto-estima, perfeccionismo e história de obesidade na infância. Entretanto, a dieta para perder peso rapidamente é o fator precipitante mais freqüente para o desenvolvimento desses quadros.

Uma boa dieta deve ter planejamento, e nunca ter menos energia do que a necessária para exercermos nossas atividades do dia a dia. O grande segredo esta na qualidade do que comemos, e não na quantidade.

Milagres não existem, pelo menos no quesito emagrecimento. Qualquer programa de redução de peso deve necessariamente passar por uma educação alimentar e nutricional, orientada por um médico ou nutricionista.

Saúde e beleza podem sim andar juntas.

Perfil:
Nome: Carina de Araujo

Carina é nutricionista, graduada pela UFRGS e especialista em Nutrição Clínica. Trabalha desde 2005 no tratamento dos distúrbios alimentares e com educação nutricional de crianças e adolescentes. Não é magrela e, como todos os mortais, também come!

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